O RS vive uma crise em seu sistema de segurança pública há muitos anos.
O que estamos assistindo agora é um momento de paroxismo do processo de
adoecimento institucional construído pela incompetência e pela irreflexão
públicas. A vida das cidades gaúchas se degradada pela violência e pela
sensação se insegurança.
Vivemos constrangidos pelo medo, contabilizando o número de vezes em que
fomos vítimas e tomando conhecimento de novos atos de banditismo sem a resposta
adequada do Poder Público, o que contribui para a retração das atividades
econômicas e para o afastamento da cidadania dos espaços públicos.
A violação dos direitos daqueles que foram atingidos pelo crime tende,
por seu turno, a criar um ambiente de desespero e ressentimento que é
aproveitado pelos demagogos no mercado da venda de ilusões. As mesmas premissas
que construíram o caos são, então, reforçadas. Este é o caminho que nos leva ao
fundo do poço, e para além dele, porque nada é tão ruim que não possa piorar.
Para se enfrentar a crise na segurança,
como para responder a qualquer questão complexa, é preciso ter a disposição de
fazer perguntas. No Brasil, tudo se passa como se as respostas fossem sabidas e
apenas não implementadas.
Esta estupidez que produz certezas é
a mesma que evita conhecer. Então, por exemplo, dizemos que é preciso contratar
mais policiais. Muito bem. É óbvio que faltam policiais, mas por que faltam?
Faltam policiais porque nosso modelo de polícia não lhes assegura carreira.
Porque temos duas portas de entrada em cada polícia, uma para quem vai mandar e
outra para quem vai obedecer; coisa que só no Brasil. Porque parte cada vez
maior dos policiais apenas aguarda a chance de deixar sua corporação pela
ausência de perspectivas.
Assim, investimos na seleção e na
formação de policiais que, sistemicamente, saem das polícias após alguns anos e
só o que se demanda é que o governo dê mais velocidade a esta porta giratória.
Deveríamos estar falando em carreira
única em cada polícia, em ciclo completo, em diagnóstico e monitoramento de resultados,
em áreas integradas de segurança, em prevenção, em georreferenciamento etc. Mas,
no Brasil, isso é o mesmo que falar grego.
Seguimos assim, pedindo mais do
mesmo. Mais prisões, ainda quando elas se tornam espaços ideais para a
organização de facções e para ampliação do crime e mais policiais, ainda que
eles sejam recrutados para um dos mais ineficientes modelos de polícia do
mundo.
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