quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Petistas resistem à tese da renovação

Autor(es): Por Caio Junqueira | De Brasília
Valor Econômico - 30/10/2012 .
 
A eleição de Fernando Haddad para prefeito de São Paulo abriu no PT um debate sobre até onde a ideia do "homem novo para um tempo novo" é apenas um slogan do marketing de sua campanha ou servirá para influenciar as escolhas do partido para os próximos embates eleitorais. 

Em geral, a avaliação é a de que a estratégia conduzida com sucesso pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi muito mais um caso específico para disputar a capital paulista, tendo em vista as circunstâncias locais, do que uma tendência que ganha força daqui em diante.

"Não sou adepto da ideia de que o PT vai viver uma grande renovação com a vitória do Haddad porque o PT já tem na sua origem uma política constante de renovação. Houve uma estratégia eleitoral para a disputa de São Paulo e que deu certo. Mas se for ver na base, há manutenção de poder de antigas lideranças", diz o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS).
Na mesma linha vai o deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP): "A renovação foi mal entendida. Ela ocorreria de fato se tivesse sido ampla, se tivesse ocorrido em todos os lugares ou pelo menos na maioria, mas não foi assim. Cada eleição é uma eleição. O discurso da novidade serviu a São Paulo mas não quer dizer que vale a todo o PT."

Partido dos Trabalhadores
Para chegar a essas conclusões, é preciso antes de mais nada dar um critério à avaliação. É certo que o "novo" nunca disputou uma eleição majoritária e, assim, coloca-se como diferente dos que vinham sendo testados anteriormente. 

No caso de Haddad, por exemplo, isso é bem evidente. Desde a fundação do PT, só três nomes se alternavam nas eleições municipais: Luiza Erundina (1988 e 1996), Eduardo Suplicy (1992) e Marta Suplicy (2000, 2004 e 2008). O Haddad, embora um nome indicado e sustentado pela velha liderança, estava fora desse circuito.
Nessa linha, apenas dois casos se igualam em novidade. Márcio Pochmann em Campinas (SP) e Elmano de Freitas em Fortaleza (CE), derrotados, e Marcus Alexandre, vitorioso em Rio Branco (AC), todos fora do grupo que se revezava em candidaturas.
Esse critério, porém, pode ser ampliado para incluir aqueles que, apesar de neófitos em majoritárias, tenham já apresentado seu nome ao eleitorado em eleições proporcionais. É o caso de Luciano Cartaxo em João Pessoa (PB), eleito após quatro vitórias para vereador e uma para deputado estadual. Ou de Ludio Cabral em Cuiabá (MT), derrotado após ter sido eleito duas vezes vereador, e de Adão Villaverde em Porto Alegre (RS), que no terceiro mandato parlamentar perdeu a disputa no primeiro turno neste ano. Houve, portanto, perdedores da nova geração.
Nesse sentido, há dados para todos os gostos quando se avalia o grau de "novidade" que as eleições deste ano levaram ao partido. Os que ganham com essa ideia se entusiasmam com ela. "Vamos viver um momento de renovação, de novas caras, está em gestação uma nova geração de lideranças", afirma o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), provável candidato do PT a governador do Rio em 2014, no critério novidade em majoritária.
Segundo ele, há uma preocupação de Lula, fiador da candidatura Haddad, com o "PT do futuro". "Lula está muito preocupado com a renovação de quadros. Haddad já é um nome para o futuro do PT. Tem ainda a Gleisi [Hoffmann, ministra da Casa Civil e cotada ao governo do Paraná em 2014] e o [Alexandre] Padilha [ministro da Saúde e cotado para o governo de São Paulo em 2014]. Ele já mira o pós-Dilma". Ressalta, contudo, que "o apoio eleitoral de Lula é fundamental nesse processo", ou seja, a força do velho poder.
Assim, abre-se outra questão contrária à tese da novidade. Para prevalecer no processo de escolha do nome que irá disputar a eleição, muito mais do que entrar na onda da novidade é ter o apoio interno de Lula. A questão que se coloca é se a vitória foi do novo ou do poder de Lula. O ex-presidente perdeu disputas para as quais indicou o novo.
Em São Paulo, o ex-presidente deslocou quatro pré-candidatos bem votados na cidade para fazer Haddad candidato. Por outro lado, foi contrário à novidade em Porto Alegre. Defendia a adesão à reeleição de José Fortunati (PDT), bem como em Diadema, onde fez o discurso antinovo.
"A disputa interna continua existindo, mas algumas lideranças têm grande influência. A liderança do Lula é mais do povo que do PT. É a maior liderança popular do país, pesa muito", diz o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, cotado para disputar o governo de São Paulo em 2014. Nas especulações internas no PT, outros nomes também estão colocados, como Alexandre Padilha, que seria o "novo", e Luiz Marinho, prefeito reeleito de São Bernardo do Campo, que carrega a condição de petista mais próximo do ex-presidente e não se sabe se, depois de dois mandatos, pode ser incluído na categoria de novidade. Mercadante, que disputou o governo do Estado em 2006 e 2010, não se posiciona hoje como candidato.
"A minha responsabilidade hoje é o Ministério da Educação. Não há e não haverá 2014 na minha pauta. Já aprendi que essas coisas se definem na hora certa e de acordo com a conjuntura específica. Em 2010, pretendia ser candidato a senador e fui a governador. Em 1990 queria estudar e fui instado a ser candidato a deputado. Em 1994 queria tentar o Senado e fui candidato a vice-presidente. O nome se define no momento", afirma.
Ele contesta, contudo, a ideia da "nova onda" que possa ser produzida por Haddad dentro do PT. "Haddad não era "novo", ele vinha com um cartão de visitas que era seu trabalho no Ministério da Educação, que é a área mais bem avaliada do governo. É uma renovação com consistência". Ele conclui dizendo que "não existe regra ou padrão nas eleições" na escolha de um candidato. "Eleição não tem regra. Cada eleição é uma eleição. O importante é ter humildade de ver qual o melhor caminho e não sobrepor nenhum interesse pessoal ao coletivo."
O secretário-geral do PT, Elói Pietá, avalia que o partido já há algum tempo usa mecanismos internos de renovação, como cotas para mulheres e jovens, proibição da segunda reeleição parlamentar e da reeleição para dirigentes partidários. Nessa linha, há uma tendência de substituição de poder mas que ainda não está configurada. 

Assim, hoje o PT continua sendo comandado pelo grupo fundador, mas, segundo ele, não irá demorar para que um grupo intermediário, representado por Haddad, passe a dominar a legenda.
Ele inclusive menciona um efeito colateral disso: "A gente nota que a geração mais antiga resiste a essa renovação. Tende a ter um enrosco nesse aspecto e isso é natural, não é privilégio nosso, sempre há um apego ao poder por parte de quem o exerce."

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